
“Cansei da badalação”
Aos 60 anos, Nuno Leal Maia, o Bernardo de Duas caras, não quer mais saber de festas, de ser fotografado, de namoros fugazes e da vida de galã de novela
O vozeirão e o jeito estabanado dos personagens que consagraram Nuno Leal Maia na televisão pouco lembram o ator na vida real. Nuno é calmo, sério e fala bem mais baixo que o bicheiro Tony Carrado, de Mandala (1987), o surfista Gaspar Kundera, de Top Model (1989), e o vendedor de cerveja Bernardo, seu atual papel na novela das 8, Duas Caras. Aos 60 anos, o ator conta que o tempo o tornou mais reservado. Ele não gosta mais de badalações, acorda cedo e pratica ioga há 28 anos. A fama de conquistador, Nuno também afirma que ficou para trás. Há seis anos, ele namora a funcionária do Tribunal de Justiça de São Paulo Mônica Camilo, de 31, seu relacionamento mais duradouro até hoje. 'Sempre duvidava das minhas relações. Quando conheci a Mônica, senti que poderia ir adiante e me entreguei', diz.
Famoso pelas pornochanchadas da década de 70, o ator estreou na carreira em 1969, na montagem brasileira do musical Hair. Nos anos 80, ganhou projeção ao interpretar galãs em novelas da Globo. A trajetória de protagonista, no entanto, teve um final precoce. Em 1991, Nuno recusou o papel principal em Vamp, trama das 7, e viu suas participações em folhetins diminuírem consideravelmente. 'Não me arrependo', afirma. 'Nunca me preocupei em ser o protagonista. Queria diversificar meu trabalho como ator.'
QUEM: No início da carreira, você ficou famoso atuando em pornochanchadas. Sente falta da combinação mulher pelada-palavrão no atual cinema brasileiro?
NUNO LEAL MAIA: De jeito nenhum. O que falta no cinema brasileiro é roteirista. Botar homem bonito e mulher bonita nos filmes é sempre bom, pois chama a atenção. Mas a nudez é desnecessária. O fato de o cinema brasileiro não ter mais nada de pornochanchada, porém, não significa que seja mais coerente.
QUEM: Como assim?
NLM: A coisa gratuita não passa necessariamente pela nudez. Um bom exemplo é o filme Abril Despedaçado. Colocaram o Rodrigo Santoro, que é um grande ator, em um universo que não tem nada a ver com ele. Ficou oportunista. Ele é muito bonito, destoa daquele ambiente. Não é qualquer ator que pode fazer determinado filme. Cinema não é como novela, que tem um monte de gente falando, muitas vezes sem verdade alguma.
QUEM: Você gosta de fazer novela?
NLM: Gosto de interpretar. Tudo para mim é um exercício de interpretação, até uma coisa rápida como uma novela. Tento fazer o melhor possível, mas nem sempre fica tão bem-feito como a gente gostaria. Às vezes, uma ou outra cena fica legal, mas, quando se tem 30 ou 40 cenas para gravar em um dia, é complicado. E parece que a cena dá cria. Quanto mais você faz, mais cena aparece.
QUEM: Costuma fazer algum tipo de preparação para interpretar personagens na TV?
NLM: Nunca tive isso. O Bernardo de Duas Caras, por exemplo, eu criei usando a intuição. Na sinopse, só vinha escrito: 'O pai do Bernardinho é um vendedor de cerveja'. Para mim, foi mole. Quem não sabe como é um vendedor de cerveja? Basta ir à praia para ver aquele monte de vendedores gritando: 'Olha o mate, olha a cerveja!' Está pronto o personagem (risos).
'Não tenho luxos. No máximo, um bom vinho de vez em quando ou uma viagem para descansar. Comida, para mim, é a mais simples: feijão, banana (risos)...'
QUEM: Nos anos 80, você virou galã ao interpretar personagens como o Fábio, de A Gata Comeu, e o Tony Carrado, de Mandala. Depois, seus papéis passaram a ter menos destaque. O que aconteceu?
NLM: Fui galã até Top Model (1989). Quando me chamaram para fazer Vamp (1991), me ofereceram o papel principal, o capitão Jonas Rocha, que acabou ficando com o Reginaldo Faria. Eu não quis fazer. Achava o personagem muito certinho. Preferi o papel do padre garotão, o Jurandir, e pedi ao diretor. Eles ficaram meio p. comigo. Foi um personagem marcante, que adorei interpretar, mas depois disso passei a fazer papéis menores.
QUEM: Você se ressente por ter perdido espaço na televisão?
NLM: Talvez tenha sido um erro meu recusar o papel, mas não me arrependo. Nunca me preocupei em ser o protagonista. Não tinha essa vaidade. Minha preocupação era diversificar meu trabalho como ator, procurar tipos diferentes.
QUEM: Já ficou sem trabalho em alguma fase da sua carreira?
NLM: Graças a Deus, nunca fiquei sem trabalhar. Eu penso como o Gaspar Kundera (seu personagem de Top Model): 'Não se preocupe com grana, brother, porque dinheiro pinta'. Ele falava isso para os filhos (risos). Claro que sou prevenido, sei onde estou pisando. Nesta profissão, posso ficar desamparado do dia para a noite. Se acontecer alguma coisa, baixo meu padrão de vida e começo tudo de novo. A gente tem que saber fazer isso.
QUEM: Que tipo de luxos você se permite?
NLM: Não tenho luxos. No máximo, um bom vinho de vez em quando ou uma viagem para descansar. Comida, para mim, é a mais simples: feijão, banana (risos)... Há pouco tempo, comecei a apreciar champanhe, mas raramente bebo. A única necessidade da qual não abro mão é um bom carro, pois minha mãe, que vive em Santos, tem problemas de saúde e eu preciso poder viajar até lá sempre que necessário.
QUEM: Por que você nunca aparece nas revistas?
NLM: Porque cansei da badalação. Minha vida era festa, sair à noite, ser fotografado. De uns 15 anos para cá, comecei a curtir mais o dia, a gostar de fazer ginástica, natação, ioga.
QUEM: Você fez 60 anos em outubro. Essa idade tem algum significado especial?
NLM: Significa administrar melhor o corpo. Não dá para jogar bola ou correr como aos 30 ou 40 anos. Hoje sinto dores nas articulações que não sentia antes. Tudo tem que ser bem dosado. Até o sexo deve ser mais tranqüilo.
'Já fumei maconha. Nos anos 80, fui até para a Jamaica. (...) a maconha é proibida por lei, mas é vendida em qualquer esquina. Era ótima, de alta qualidade...'
QUEM: Em 2001, você fez propaganda do Viagra. Já usou?
NLM: Até agora não precisei, porque tenho uma namorada muito legal (risos). Não gosto de tomar remédio. Só quando é extremamente necessário. Remédio é droga.
QUEM: E drogas, já usou?
NLM: Já fumei maconha. Nos anos 80, fui até para a Jamaica. O bordão de lá era: 'Jamaica, no problem'. A maconha é proibida por lei, mas é vendida em qualquer esquina. Era ótima, de alta qualidade, como eu nunca tinha visto antes (risos). Foi só uma fase, pois sou contra a dependência. Fumei cigarro por muitos anos e parei. Podemos experimentar de tudo, mas nada pode ser mais forte que a gente.
QUEM: Por que não teve filhos?
NLM: Porque não aconteceu. Nas minhas relações, sempre deixei essa opção em aberto. A Mônica está até interessada, mas não faz muita força. Se pintar, pintou. Se não pintar, deixa pra lá.
QUEM: O que você faz para conquistar uma mulher?
NLM: Não quero mais conquistar mulher nenhuma. Chega (risos)!
QUEM: Sua fama de namorador é coisa do passado?
NLM: Eu só estava tentando achar uma mulher legal. Quando conheci a Mônica, parei de procurar. Ela tem defeitos, como todo mundo, mas combina muito comigo. Meus relacionamentos não passavam de quatro anos porque eu sempre achava que poderia viver algo mais emocionante. Hoje, descobri que a vida a dois é interessantíssima.
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